Muitos possivelmente conhecem o popular inseto bicho-pau. Como seu próprio nome popular diz, é um bicho que se parece com um galho. Esta similaridade com um órgão vegetal concede a esses indivíduos a capacidade de camuflagem no meio selvagem, dificultando não apenas para os cientistas encontrá-los, mas principalmente, seus predadores. No entanto, há um fato pouco conhecido sobre estes indivíduos pertencentes à ordem dos Phasmatodea. E o que seria? Trata-se de uma família dentro desta ordem denominada Pseudophasmatidae, onde encontraremos o que chamarei aqui de “falsos bicho-pau”. Eles são insetos em boa parte noturnos, geralmente herbívoros, com corpo alongado, segmentado em cabeça, tórax e abdômen, possuem três pares de pernas, um par de antenas e, o mais interessante, um par de opérculos na região toráxica bem perto da cabeça. Mas por que os opérculos seriam interessantes? Bom, os falsos bicho-pau não necessariamente possuem a vantagem da camuflagem e utilizam um outro meio para evitar a predação.
Em maio de 1965, Thomas Eisner escreveu o trabalho “Defensive spray of phasmide insect” para a revista Science sobre o pseudofasmatódeo, Anisomorpha buprestoides (Stoll, 1813). Com os tais opérculos mencionados mais acima, este inseto consegue movimentá-los para mirar nos olhos de seus predadores e espirrar uma substância lacrimogênia, junto a um vapor irritante para as mucosas. O composto ativo deste spray é um terpeno dialdeído, com o nome de anisomorfal (ou pela IUPAC, (1S,2S,5S)-2-metil-5-(3-oxoprop-1-en-2-il)ciclopentano-1-carbaldeído), associado com nepetalactona (substância da erva-de-gato) e outros compostos produzidos por plantas e insetos, como por exemplo, compostos da classe dos monoterpenos ciclopentanóides.
No trabalho publicado, Eisner conseguiu determinar a efetividade deste sistema de defesa ao colocar indivíduos de A. buprestoides em contato com formigas, abelhas, besouros, um gaio azul, um rato e um gambá. Os insetos, o pássaro e o rato que receberam uma borrifada dos falsos bicho-pau, foram repelidos com sucesso; porém, aqueles que já estavam com seus recursos de defesa esgotados, foram predados. Apesar da eficácia contra estes animais, o spray teve um menor sucesso para repelir o gambá, ainda que o mesmo reagisse com um certo incômodo. O marsupial continuava suas investidas e não desistia por mais que outros pseudofasmatódeos, ainda com carga, utilizassem suas defesas contra ele.
Como observamos, houve indivíduos que foram predados por terem esgotado a carga de sua defesa química. Portanto, existe um limite de quantos jatos cada indivíduo consegue liberar. Os resultados variaram conforme o sexo. Como a fêmea é ligeiramente maior, elas conseguem expelir até cinco jatos por cada opérculo; em quanto os machos, apenas uma ou duas vezes. Apesar das cargas se esgotarem, estes insetos ainda conseguem repô-la por completo após um período de 7 a 15 dias. O material necessário para recarregar suas defesas vêm das plantas consumidas na dieta alimentar deste inseto, que passam por um processo metabólico para formar o anisomorfal.
Algo interessante observado, foi que o macho ficava nas costas da fêmea ou próximo a ela, mesmo quando não estavam acasalando. Esta formação ocorre mesmo em seus estágios de ninfa imatura. Como há uma limitação do uso de sua defesa química, existe a possibilidade deste comportamento ser uma estratégia adaptativa contra a predação. Isto seria uma forma de aumentarem a quantidade de jatos disponíveis para ambos, até que ocorra a recarga de seus compostos e, consequentemente, melhorando as chances de sobrevivência dos indivíduos associados.
Referências bibliográficas:
EISNER, T. 1965. Defensive spray of a phasmid insect. Science, Nova York, v. 148, n. 3672, p. 966–968, mai. 1965
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