A
radiação emitida pelo sol é composta por ondas eletromagnéticas de diferentes
comprimentos. Esses diversos tipos de ondas eletromagnéticas se concentração em
um agrupamento chamado de espectro. A luz que podemos ver, chamada luz visível,
corresponde a apenas uma pequena parte do espectro, variando do vermelho ao
violeta. As ondas abaixo do vermelho são chamadas de raios infravermelhos e as
ondas acima do violeta são chamadas de radiação ultravioleta (UV), ambas as ondas
não podem ser vistas pelo olho humano e é nesse fato que mora o perigo para
nós.
Ao
recebermos raios ultravioleta (UV) em grande quantidade, os mesmos podem levar
a sérios danos à saúde, como câncer de pele, envelhecimento precoce, problemas
oculares como catarata, alterações no nosso sistema imunológico, dano ao DNA
pela produção de radicais livres e inflamação local que causa inchaço, dores e
danos a pele caso a inflamação perpetue.
Uma
das formas de se proteger dos raios UV além de evitar se expor ao sol em horários
de alta carga dos raios, é utilizando o protetor solar. O protetor solar atua
como uma barreira química que absorve os raios UV, ou como uma barreira física
que reflete a luz solar, assim, impedindo que eles danifiquem a pele e suas estruturas.
Mas e se além do protetor fornecer essa barreira de proteção, ele agir na
reparação de possíveis danos causados pelos raios UV?
Foi
isso que pesquisadores do departamento de farmácia da Universidade de São Paulo
(USP) em parceria com o Centro de Investigação em Biociências e Tecnologia da
Saúde da Universidade Lusófona de Lisboa buscaram desenvolver. Sabendo que as
plantas produzem milhares de substâncias, os pesquisadores buscaram uma substância
que possuísse propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes e encontraram o ácido
ferúlico. O ácido ferúlico é um composto químico orgânico que pertencente à
família de compostos chamados ácidos hidroxicinâmicos. O ácido ferúlico é um
potente antioxidante fenólico encontrado em altas concentrações principalmente
em arroz, frutas cítricas, trigo, milho, café torrado e vários outros vegetais,
além de possuir atividade possui também efeito anti-inflamatório, hepatoprotetor, anticarcinogênico,
antimutagênico.
Após achar o composto candidato, como avaliar o potencial
dele? Os pesquisadores primeiro formularam os produtos com base na literatura,
onde usaram uma emulsificação (mistura de água e óleo) como base e adicionaram etilhexil
triazona e bemotrizinol que são substâncias que absorvem a radiação UV, com
esse produto pronto então foi adicionado o ácido ferúlico, no final obtendo um
protetor solar com ácido ferúlico e outro sem.
Os testes foram feitos em ex vivo, sendo submetido
ao conselho de ética para aprovação. 12 pessoas foram recrutadas para o teste
de absorção do produto e 13 pessoas na idade entre 18-70 anos com o tipo de pele
II – V (figura 1) para o teste de atividade anti-inflamatória e antioxidante.
Figura 1 - classificação dos fototipos cutâneos (escala Fitzpatrick)
O teste para avaliar a absorção do produto foi feito no antebraço de 12 participantes, onde as formulações (formulação protetora normal/formulação protetora com ácido ferúlico/água) foram aplicadas e depois de 2 horas com o uso de uma fita colante no local da aplicação, foram retiradas 20 amostras com o objetivo de extrair as camadas do estrato córneo da pele, depois da retirada essas amostras foram lavadas com uma substância responsável por extrair a substância grudada da fita, centrifugada para separar os líquidos e quantificado por cromatografia liquida (HPLC) para determinar o quanto de substância chegou nas camadas da pele.
O teste para avaliar o
efeito anti-inflamatório e antioxidante foi feito no antebraço de 13
participantes, onde cada um recebeu formulações diferentes (formulação protetora
normal/formulação protetora com ácido ferúlico/água), depois de 2 horas da aplicação,
qualquer resquício do produto foi retirado e o local da aplicação foi submetido
a aplicação de uma substância chamada Nicotinato de metila por 60 segundos,
essa substância causa uma reação inflamatória no local, vasodilatação e aumento
de células no tecido, após os 60 segundos a substancia foi retirada e a região
foi avaliada por 15 minutos usando um equipamento de fluxometria Laser Doppler,
esse aparelho é capaz de quantificar o fluxo sanguíneo do local de forma não invasiva.
Como resultado, eles conseguiram mostrar que as substâncias foram bem absorvidas pela pele se mantendo estáveis e com seu poder protetor funcional. Quando comparado os grupos, foi visto que quem recebeu a formulação protetora com a adição do ácido ferúlico teve diminuição do fluxo sanguíneo no local afetado pelo Nicotinato de metila em comparação ao grupo que recebeu apenas a formulação protetora sem o ácido, isso fortalece mais ainda os achados de uma pesquisa anterior feita pelos mesmos pesquisadores que mostra a formulação protetora com o ácido ferúlico aumenta o fator de proteção em 37%. Sendo assim, uma substância extraída do nosso alimento (arroz, trigo, milho) pode ser um grande aliado na proteção contra os raios UV, trazendo inovação e saúde para a população.
Referências:
Rafael Sauce, Claudinéia
Aparecida Sales de Oliveira Pinto, Maria Valéria Robles Velasco, Catarina
Rosado, André Rolim Baby, Ex vivo penetration analysis and anti-inflammatory
efficacy of the association of ferulic acid and UV filters, European Journal of
Pharmaceutical Sciences, Volume 156, 2021, 105578, ISSN 0928-0987, https://doi.org/10.1016/j.ejps.2020.105578.
https://www.smp.org.br/arquivos/site/sala_de_imprensa/boletim-2016/boletim_cient_smp_39.pdf
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