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Os efeitos da suplementação de Mangaba em ratos de laboratório.

O cerrado brasileiro possui uma rica variedade de frutos que, ano após ano, são utilizados como instrumento de estudo por grupos de pesquisa ao redor do país. O foco desses estudos pode ir desde a criação de um novo alimento até a análise da influência dos nutrientes do fruto no organismo. Seguindo esse raciocínio, um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul arregaçou as mangas e buscou na região por um fruto conhecido como Mangaba (nome científico: Hancornia speciosa). Com esse fruto em mãos, os pesquisadores resolveram investigar os efeitos que a Mangaba teria sobre o funcionamento intestinal de ratos de laboratório e, também, seu potencial anti-inflamatório.
Fonte: Portal Embrapa (2018)
    A primeira coisa a ser feita seria a polpa da Mangaba. Para isso, as frutas foram todas higienizadas, as sementes descartadas e, então, as polpas e cascas foram batidas juntas no liquidificador até virarem um só líquido. Depois disso, uma análise de nutrientes chama “análise físico-química” foi realizada para que o valor nutricional da fruta fosse estabelecido. 

    Como o objetivo da pesquisa era avaliar a suplementação, cada rato foi alimentado de ração junto de algo mais. Dessa forma, os animais foram divididos em 5 grupos, sendo que 3 deles se alimentaram de ração junto de diferentes quantidades de polpa de Mangaba. Quanto aos outros dois grupos, um recebeu ração e água enquanto o último recebeu ração e geleia de tamarindo. Nesse caso, a água e a geleia de tamarindo foram utilizadas pois possuem efeito na função intestinal, logo, seriam bons exemplos para comparar com a Mangaba. 

    Os ratos foram alimentados com essa dieta por 14 dias e, no último dia, foram coletadas amostras de sangue para análise em laboratório. Além disso, no mesmo dia, um teste (chamado de “trânsito intestinal”) foi feito para avaliar o caminho que o alimento faz por todo o sistema digestório, desde quando é consumido até a formação e eliminação das fezes. Por fim, os animais foram sacrificados para que fosse possível fazer a análise dos órgãos, principalmente o intestino. 

    Ao fim das análises, os pesquisadores chegaram a resultados interessantes. Primeiramente, a partir da análise físico-química, eles descobriram que a Mangaba possui uma boa quantidade de fibras, que é um importante nutriente para o funcionamento do intestino. Quanto ao grupo que recebeu maior quantidade de polpa do fruto, esse sofreu diminuição nas taxas de magnésio no sangue. O magnésio é um nutriente que, quando em grande quantidade no sangue, indica piora na função intestinal, reforçando então que a fruta teve um efeito positivo nesse aspecto. A técnica de trânsito intestinal também reforçou a eficiência da Mangabá no mesmo grupo. Por fim, com relação ao potencial anti-inflamatório do fruto, foi visível na análise do intestino (feita a partir da retirada de um pequeno pedaço do órgão e análise em microscópio) que tinham menos leucócitos em relação aos outros grupos. Os leucócitos são células de defesa que estão presentes em todo o organismo, mas em maior quantidade em regiões mais inflamadas, o que significa que a Mangaba também pode ter contribuído para esse resultado.
Fonte: Pch.vector (2021)
    Portanto, a partir das observações dos autores, o uso da Mangaba pode agora servir não apenas à indústria de alimentos, mas também como uma alternativa para pessoas com doenças intestinais inflamatórias e constipação. 

Gabriel Delmondes 

Referência Bibliográfica:

REIS, V. H. O. T. et al. The Effects of Supplementing Hancornia speciosa (Mangaba) on Bowel Motility and Inflammatory Profile of Wistar Rats. JOURNAL OF MEDICINAL FOOD, v. 22, n. 12, p. 1-8, 2019. DOI: 10.1089/jmf.2018.0208. Disponível em: https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/jmf.2018.0208?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed. Acesso em: 27 jun. 2021.

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